MIRANDA (noites em claro)
Encaminhado, porém perdido num caminho que me fui designinado. Mais uma vez paro para contar-lhes um detalhe da minha vida....
Foi numa noite estranha igual a todas as que se seguiram depois desta e que continuam até hoje. Uma noite em claro, a onde o branco das paredes era visível as janelas e as luzes que, lá de fora vinham me visitar. Uma noite de insônia onde todos os planos futuros vinham a tona e um pensamento diferente os acompanhava, um sentimento que me deixava ansioso e com medo, que logo se transformava em raiva e dor e que logo me trazia a uma depressão profunda. Para me distrair pensava em outra coisa, porém isto só me levava a um ciclo vicioso.
A única coisa que me livrava por alguns instantes destes sentimentos que me torturavam era a cena de uma mulher nua se entregando pra mim ou um baseado.
Meus dias se tornavam insuportáveis, o convívio com as pessoas me dava desgosto e ao ver uma mulher na rua imaginava-a nua me chupando, eram os únicos momentos de felicidade no meu dia. E Então a noite caia e com ela o meu desespero.
Não existiam mais energias somente a vida, a vida me carregando me arrastando, me levando ao trabalho e a minha vida social. Cada “oi” carreava desgosto. Cada colega de trabalho era odiado cada vez mais e as mulheres eram menosprezadas.
Meus fins de semanas eram dedicados a alienação, mas só era acompanhado pelos meus velhos amigos de infância, não os medíocres “amigos de trabalho” meus dias de sábado e domingo eram feitos para recuperar o sono perdido e as noites em claro eram aproveitadas para destruir o construído por mim durante o dia. E as poucas mulheres que vinham até a mim era feita de escravas sexuais até não agüentarem mais serem mal tratadas e me abandonavam. A cada abandono, eu me sentia feliz, e se tudo terminasse bem eu havia perdido o jogo no qual acreditava brincar.
Em fim depois de alguns anos de sofrimento eu descobri o poder da mentira e a inocência alheia. Com isto meus dias era mais divertidos. Comecei a inventar uma nova vida uma vida parecida com a deles porém com certos absurdos para entreter-los e a mim mesmo. Alguns tinham medo da minha “vida” diferente e outros tinham curiosidade e acabavam se perdendo em minhas mentiras. As mulheres era as mais fáceis de se enrolar em minhas histórias, pois ela queriam fazer parte da minha odisséia.
Mas as mulheres eram todas dispensáveis, eram só momentos para liberar com gritos o meu segredo interno. Como se o gozo as tornassem cúmplice, por isto a foda era preciso ser concebida sem camisinha.
O que me dá mais prazer neste jogo, que não era mais só um jogo , mas já uma segunda vida, difícil de ser esquecida; era conduzir as pessoas a fazer algo com embasamento numa mentira com fatos reais. Trazer a desordem, conduzi-la ao caos. Trazer o algo a mais na vida das pessoas. Trazer dor a sociedade que me trouxe dor. Trazer medo e ansiedade. Trazer prazer.
Mas depois de anos, uns 20 de jogo mais 10 da minha primeira vida. Percebi que eu estava preso na minha segunda vida e não podia mais viver só comigo mesmo. Eu estava preso as minhas mentiras como se elas fossem meu cheiro. Um cheiro que para os outros era um cheiro podre. Claro, isto se elas conseguissem sentir, pois até agora ninguém havia notado a podridão que os guiava. Tive que me tornar mais cauteloso, pois agora mentira eram como tiros, ou seja, deixavam marcas impossíveis de se tirar e podiam até destruir vidas.
Com certeza isso deixou o jogo mais interessante. Mas eu não contava com um imprevisto o amor.
Numa noite fria de filmes Novayorquinos. Eu e meu frio-na-barriga tínhamos marcado um encontro com uma mulher que conheci através de um “amigo”. Vi eles conversando na lanchonete e me sentei com eles. Ele me apresentou, Miranda é o nome dela. Trabalha numa editora brasileira. Eu disse ser além de um bom advogado um poeta. Recitei uma poesia de um jovem poeta, que adaptei na hora, e eles caíram. Marquei com ela para ver um filme de um novo cineasta nacional com inicio de carreira. Ela aceitou. Depois fomos beber um pouco , com a intenção de bebermos muito. E foi exatamente o que aconteceu. Como tiro final recitei mais um poema que improvisei na hora que eu diria que ficou até interessante para um bêbado. Miranda caiu, caiu nos meus braços que levaram-na para a cama.
Noite e noites seguidas era possível ver Miranda dormindo ao meu lado abraçada em mim. Mas aos pouco isto foi acabando e mudando. Via-se cada vez mais Miranda dormindo ao meu lado abraçada por mim. O medo surgiu, mas era abafado pelo própria Miranda.
E com o tempo minhas mentiras foram sendo gastas e sumindo deixando somente buracos da verdade inexistente. E para preencher isto, era preciso que as verdade mostrar a verdade, porém a verdade tinha sido deixada para traz a tempos. As verdades só estavam presentes na minha infância. Não havia nada para contar, as mentiras se desfaziam e as verdades não existiam. A única verdade era o meu amor por Miranda.
O grande problema era que Miranda não me conhecia, assim como eu, e nós não estávamos preparados para viver aquilo, o meu reinicio.
E ela se foi. Me deixou com um amor arruinado e sem mentiras e sem vida e incompleto e vazio e preenchido de desgosto.
Percebi então que era o ciclo vicioso, era a hora das noites em claro da ansiedade, depois do medo e depois a dor seguida de pequenos momentos de felicidade que se transformavam em ansiedade...